Como um coro de “sim” que quase não foi ouvido fora de Washington, o Comité Financeiro da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou uma lei que vai criar uma autoridade supervisora nacional para as companhias de seguros. O “Federal Insurance Office” não será uma autoridade reguladora, mas estará acima das autoridades estaduais americanas e vai recolher informações para ajudar os formuladores de políticas a responderem às crises, reduzir os riscos sistémicos e ajudar a garantir o bom funcionamento do sistema financeiro. A iniciativa é a mais recente amostra da atenção que as autoridades económicas vêm dando aos riscos sistémicos apresentados por um sector que passou os últimos meses afirmando que não causou a crise financeira, nem sofreu enormemente com ela.
No mês passado, Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, disse num encontro de autoridades reguladoras da Europa que vê as grandes companhias de seguros e os fundos de pensões como instituições sistemicamente importantes. “A interacção entre as seguradoras e os fundos de pensões, mercados financeiros, bancos e outros intermediários financeiros vem crescendo consideravelmente ao longo do tempo”, disse Trichet, acrescentando que a visão que se tem delas, de estáveis e menos inter conectadas, “precisa de mudar”. Os contra argumentos do sector vem-se concentrando no facto de que as seguradoras possuem mais capital enquanto proporção de seus tamanhos, ou uma alavancagem menor, e que elas enfrentam a mesma demanda potencial por pagamentos, ou riscos de liquidez, que os bancos. Thomas Hess, principal economista da Swiss Re, diz que as seguradoras passaram no duro teste da crise, não porque tinham modelos de risco superiores, mas sim porque possuem modelos de negócio diferentes, “ O negócio dos seguros não diz respeito à especulação, e sim à protecção dos interesses dos detentores de apólices”, diz ele, acrescentando que desactivar uma seguradora quebrada é um trabalho mais simples e mais vagaroso do que fazer isso num banco falido.
Como as seguradoras não enfrentam as mesmas demandas imediatas de pagamento aos detentores de apólices que os bancos em relação às contas correntes, elas não precisam marcar agressivamente os seus investimentos a preços de mercado. Isso significa que nos mercados de bónus em queda – mercado em que as seguradoras investem muito – elas não precisam aumentar agressivamente as suas reservas contra “defaults” que protegem as suas bases de capital, quando a solvência dos bancos está abalada pela queda dos mercados. Isso mesmo é ilustrado por Raghu Hariharan, analista do Citigroup que avalia que as reservas contra calotes das companhias de seguros do Reino Unido são hoje menos de metade dos níveis registrados antes da crise, com base nos valores de mercado do bónus corporativos. Muitos observadores e analistas concordam com esse quadro em termos amplos – embora com várias advertências – mas o facto das seguradoras não representarem os mesmos riscos que os bancos, não significa que elas não representam riscos sistémicos. Autoridades económicas apontam para o exemplo do passado em que a disponibilidade de seguros caiu dramaticamente por causa das grandes perdas, o que levou os governos e interferirem para proporcionar cobertura.
Isso aconteceu recentemente com os seguros de crédito comercial na França e no Reino Unido, e no passado com a cobertura contra terrorismo e furacões na Florida. Houve também períodos em que as seguradoras de vida foram forçadas a vender certos activos, como por exemplo acções durante o “crash” dos papeis das empresas “ponto com”. Além disso, existem incertezas sobre como as novas regras de capital propostas na Europa (Solvência II) que estão a ser discutidas para serem implementadas em 2012, poderão afectar os incentivos e comportamentos das seguradoras – e a alavancagem do sector como um todo.
As novas regras também contam muito com as avaliações de crédito, de uma maneira que provavelmente vai concentrar – em vez de diversificar – a exposição de contrapartidas. Segundo a Munick Re, as seguradoras conseguirão um alívio de capital muito maior, comprando resseguros de uma contraparte com classificação de risco “AA” do que espalhando os riscos por seis contrapartes com classificação “A”. Joachim Oechslin, director de risco da Munich Re, diz que as resseguradoras vão assumir casa vez mais riscos voláteis, complexos ou extremos. Jonathan Hekster, analista de Bernstein Research, afirma que as resseguradoras – uma referência dos riscos e do capital para o sector como um todo – mostram o seu real valor no manejo de riscos extremos. “Mas o risco real em modelos imaginários, conforme já vimos, é que as pessoas começam a acreditar muito nelas e expelem os excessos, ou margem de erro”, diz ele. “Não estou convencido de que, com a Solvência II, mais sofisticado necessariamente significa melhor.”
Seguradoras e resseguradoras podem apresentar riscos muito menores de um colapso súbito e imediato em comparação com os bancos, mas elas fazem promessas por períodos de tempo muito longos. No fraseado médico, os riscos sistémicos que elas representam podem ser crónicos e de longo prazo, em vez de críticos e de curto prazo.
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